domingo, abril 16, 2006
Conquistas de Pólvora Seca
Ah, o Vitória. Um clube que tão garbosamente tenta escapar à descida de divisão com cromos do calibre de Hélder Cabral, o "Roberto Carlos africano" Paíto, Manoel "é com O e não com U", e Flávio "Traumatismo" Meireles.
Os tempos mudam. Na década passada morava na cidade berço uma linha avançada capaz de olhar olhos-nos-olhos os maiores da Europa (menos o FCP, pois não é fácil olhar o Rui Barros nos olhos). Cromos atrás de cromos, atrás de cromos. Golos atrás de golos.
Numa perspectiva puramente saudosista, não é fácil ver a quantidade e qualidade de arietes que povoavam as sempre aguerridas hostes minhotas. A saudade bate à porta.
Toc,Toc. Quem é?Golo.
Palavras pesarosamente proferidas quando relacionadas com o Jardel de papel, Gilmar. Um homem de área. Um goleador. Um Vinha com menos cabeça e mais pés. Um Miran com mais pés e menos cabeça. Barrar molho na tosta não era uma questão para este brasileiro. Sempre no sítio certo à hora certa, Gilmar não sabia falhar. Sim, é verdade que durante 85 minutos por jogo não era mais do que um cepo, um jacarandá plantado sem eira nem beira numa qualquer grande área. Porém, o seu nome era sinónimo de golo.
Ao mesmo tempo, o seu companheiro de ataque, Edinho, era sinónimo de bolo. Com "b", nem mais. O anafado executante era um mestre à mesa.Vencedor do "31st Annual North Carolina Hot-Dog Eating Contest" em 1994, Edinho fazia questão de mostrar porque fazia parte de um plantel de futebol profissional apesar dos seus 114kg. Qual era a razão? Era um óptimo leitmotiv para trocadilhos para os jornais. Qualquer golo da sua parte era uma verdadeira panaceia pasquinense:
-"Com o (D)Edinho do brasileiro"
-"Dedinho de Edinho na Vitória do Guimarães"
O mais ridículo nesta situação é que não estou a gozar. Lembro-me disto. Sério. De qualquer forma, Edinho, apesar de ser um pipo, um indivíduo com o tecido adiposo muito desenvolvido, salpicava o sal no futebol. E ao fim e ao cabo, é isso que interessa.
Armando é conhecido entre nós por ser o último jogador branco da 1ª Liga a ser portador de um bigode. Um bigode simples, um pouco envergonhado. A roçar o buço extra-desenvolvido, mas um bigode honesto.E por isso te agradecemos, Armando.
Esta gente partilhava o sector mais avançado com outros três portentos. Começamos por Makalamba Katanga. Não sei se era bom. Não sei se era rápido. Não sei se era incisivo. Não sei se tinha técnica. Não sei se tinha faro para o golo. Não sei se tinha visão de jogo. Mas sei que era feio que doía. Um sério concorrente a título de jogador mais feio de sempre do fútbol luso, ameaçando a posição quasi-confortável de Armando Teixeira, Le Petit.
Toniño era mais um perfeito exemplar da uniforme Armada Espanhola que foi semeada no nosso futebol nos anos 90. Normalmente contrabandeados para Portugal através da fronteira flaviense, estes hermanos tinham todos características similares. Fossem eles Toniños, Gorkas, Dani Diaz, Bastons, Sabous ou Toñitos, pareciam tirados do mesmo molde. Á excepção de Baston, claro, pelo simples motivo que era guardião. Mas não me sentiria bem se não escrevesse o nome dele aqui. Aliás, já ia em 15 dias sem escrever o nome dele no blog. O meu psiquiatra recomendou que chegasse aos 43 dias. Aproveito para lhe pedir desculpa.
Voltando à vaca fria, esta Armada Espanhola padecia toda do mesmo mal. Aliás, um mal que parece assolar os espanhóis em geral. Muita parra e pouca uva. Corriam, espalhavam o seu gel pelo campo, mostravam os seus pelos do peito e eram substituídos por volta dos 74 minutos de jogo. Por alguma coisa o Desportivo flaviense desceu e por lá ficou.
Sobra Ricardo Lopes. Algo a que ele sempre esteve habituado. Sempre relegado para segundo plano, este tecnicista era um espectáculo dentro do próprio espectáculo. O homem dos grandes golos. O António Folha em potência. Arriscava ser um CD de José Cid, mas nunca passou de uma K7 pirata de Graciano Saga. Mas também o Graciano é um artista, não é verdade?
Volta sempre, Vitória.
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